Contando histórias, melhorando o mundo.

Imag <foo

09 abril, 2008

TEATRO NA ESCOLA


A MÁSCARA E O ESPELHO

Reflexões sobre o sentido do teatro na educação motivadas pelo projeto NA TAVERNA, adaptação da obra Noite na taverna, de Álvares de Azevedo

O trabalho do teatro na educação é proporcionar ao aluno a possibilidade de vivenciar a máscara e o espelho. A máscara é um exercício dele para com ele mesmo. O aluno, através de vestir as máscaras, vai ter a possibilidade de descobrir um pouco de seu próprio rosto. O teatro permite isso. Ao contrário do que se imagina, o ator, vivendo vários papéis, não confunde a sua própria personalidade. Ao contrário: o fato de viver papéis dá àquele que experimenta o teatro a grande oportunidade de perceber quem ele é. Não é assim que a criança faz? Para saber quem ela é, ela não tem que viver a mãe, o pai, o cachorro, a professora? Isso para que ela perceba nesse jogo quem ela é. A criança não vive o pai para ser o pai; ela está vivendo o pai para saber que ela é diferente do pai. Mas, para ela saber que é diferente, primeiro tem que se identificar com ele.

Quando chega na escola, a criança traz toda essa carga de experiência lúdica. Infelizmente, isso é abandonado, jogado no lixo. A função do teatro na educação é resgatar essa experiência lúdica no teatro, essa teatralidade que trazemos da infância. Na adolescência, que é o momento de novamente se viver várias máscaras, porque é preciso perceber, na verdade, qual é o próprio rosto, o teatro permite ao indivíduo a experiência de encontro do próprio rosto. Usando uma máxima do Nietzsche: ‘Tornar-se o que você é’. Assim, o primeiro exercício que o teatro proporciona é o da máscara.

O segundo é o espelho. O espelho ocorre na relação com o palco. Ou seja: ao mesmo tempo em que permite ao indivíduo encontrar-se consigo mesmo, o teatro proporciona o encontro do “eu” com o outro. Primeiro, porque no teatro é vital trabalhar em grupo; é um processo da socialização muito intenso. Se alguém não gosta do fulano ou de sicrano, se o outro o incomoda, se o ritmo dos meninos é diferente do das meninas, na relação grupal vivida no teatro tudo deve ser superado. Não é terapia. O objetivo do teatro é estético. Mas é preciso passar pelo exercício do viver com o outro, do conviver com o diferente. Por isso é um trabalho de espelho: o indivíduo tem que se espelhar no outro, deve que ver nesse espelho social com o qual convive.

Além disso, é um trabalho de espelho também na relação com a platéia. “Eu” estou aqui, “eu” estou vendo pessoas e as pessoas estão me vendo. O teatro provoca a exposição pública e exige a superação do limite da inibição. No palco, ouvimos a voz dos mais tímidos; no palco, os mais exaltados têm de enfrentar o público de peito aberto. É no palco que verdadeiramente reconhecemos os corajosos, os inseguros, os autênticos e aqueles que ainda não conseguiram superar a fase do medo de ser indivíduo.

O teatro na educação não pode ser um fim, mas um meio, usado exclusivamente como instrumento de fortalecimento da personalidade e da socialização, do desenvolvimento do senso estético, do ampliação do repertório cultural, da aquisição do conhecimento através de um processo lúdico e criativo.

(baseado em entrevista de José Maurício Cagno)

3 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

eh... legal

Anônimo disse...

Acho fundamental trabalhar com o teatro nas escolas! A função além de didática é tb artística e existencial, pois, como diz Nelson Rodrigues - "deveríamos ver o teatro não sentados, mas de joelhos, porque o que se vê no palco é reflexo de nossas vidas, de nós mesmos".
Abraços
Cintia Teixeira