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13 julho, 2008

NÃO HÁ LIMITES PARA A IMAGINAÇÃO


L’Oratório d’Aurélia nos leva de volta à infância através de um inusitado mundo onírico


Por uma dessas felizes surpresas que o acaso coloca em nosso caminho, assisti no último dia 10/7, no Palácio das Artes (BH/MG) ao belíssimo espetáculo L’Oratório d’Aurélia, com a atriz e bailarina francesa Aurélia Thierrée. 'Belíssimo' não diz tudo que há nesse espetáculo.

Utilizando-se de elementos dos universos circense e teatral, delicadamente coloridos com passos de dança, L’Oratório d’Aurélia é uma surpreendente sucessão de quadros, na qual é contata uma história sobre... Sobre o que mesmo é a peça? Talvez fale de um casal que se vê forçado a uma separação – ele terá que partir num trem que insiste em apitar seu dolorido sopro de despedida (como me lembrei de Adélia Prado com o trem atravessando toda sua vida; e de Bandeira, com o apito de um bonde que corta o silêncio como um túnel; e de Pessoa / Álvaro de Campos, com uma sacudidela de nervos e um ranger de ossos na partida).

Mas nada é narrado com precisão e o espectador pode atribuir à seqüência de quadros outros sentidos; à frouxidão da narrativa se sobrepõe a magia da revelação poética. Saí do teatro com uma certeza: se me perguntarem do que fala o espetáculo, eu não saberia ao certo dizer. A não ser que ele fala dos sonhos, do onírico, do universo poético.

Em L’Oratório d’Aurélia o mundo está de ponta-cabeça. O sorveteiro vende sorvetes de brasa incandescente, um rato arrasta um gato morto, a pipa vem para o chão enquanto no alto, na ponta da linha, está Aurélia; uma marionete se suicida, a sombra caminha ereta e projeta o corpo no chão; a moldura do cenário e as cortinas caem; o imponderável Theatre Guignol, onde as marionetes são o público. Os sonhos se sucedem uns aos outros e, no final, o trem atravessa o próprio corpo de Aurélia e no escuro, apenas suas luzes brilham.

A atriz Aurélia Thierrée sai de dentro de uma cômoda e se transforma em areia diante dos nossos olhos atônitos; ela é a tecelã de si mesma, numa das mais belas cenas do espetáculo. O bailarino que contracena com ela é fantástico, principalmente nos números em que tem como parceiros de dança vestidos e paletós.

Diante da sucessão de truques – todos simples, mas por isso mesmo mágicos, eis o segredo da ilusão – a maravilhada criança, duas filas atrás, inocentemente pedia: “Faz outra vez!”

Belíssimo. Fantástico. Onírico. Surpreendente. Poético. Singelo. Delicado. Etéreo. Hipnotizante.

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