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24 março, 2008

Mais FOOLTURO

Pra quem quer entender o foolturo:

A postagem abaixo é apenas uma clara demonstração de minha incompetência crítica diante de algo realmente novo. São apenas umas palavras soltas, coisas que vieram à flor da língua e dos dedos assim que li o livro FOOLTURO, de Márcio Almeida, publicado em Germina Literatura (http://www.germinaliteratura.com.br/) e que os leitores podem (e devem!) acessar e ler o quanto antes.

Já disse antes que minha admiração pelo Márcio Almeida vem de longa data. Ao ler os poemas de FOOLTURO fiquei simplesmente impressionado com o vigor que este poeta atingiu. Uma dicção própria, mas profundamente assentada sobre suas muitas leituras. Eu, particularmente (e com certeza ignorantemente também), vi “rastros” de Pound nos poemas de FOOLTURO. O Pound d’Os Cantos. Algo de poeta-inventor, pra usar a escala que o próprio Pound criou pra classificar poetas, embora eu particularmente não ache que poeta e poesia seja coisa a ser “medida”.

Mas acompanho as palavras de Sebastião Nunes na introdução do livro: “Nele, dois aspectos me chamaram especialmente a atenção: primeiro, a nenhuma influência detectável de qualquer poeta que eu conheça, talvez traços longínquos do Eliot de The Wast Land, especialmente pelas numerosas citações, ou ‘rastros’, como ele prefere; segundo, por ter sido capaz de criar uma autêntica cosmogonia, um bailado informacional e lingüístico amplo e diversificado, sem prejuízo de rigorosa construção poética. Em resumo: um verdadeiro poeta, no domínio pleno de sua capacidade criadora.” Eu não conheço bem Eliot. Por isso não posso corroborar às cegas essas palavras. Mas eu já li bastante Pound. E se pude perceber algum ‘traço longínquo’ em FOOLTURO foi d’Os Cantos.

Mas acho (eu não sou bobo de afirmar nada!) que todos os poetas são mesmo autores de um só texto e por isso todos estão sempre dizendo a mesma palavra. Não uma palavra que se repete à exaustão. Não: uma palavra que é o signo oculto em todas as línguas e cujo nome mais próximo em que consigo pensar é POESIA. Márcio Almeida demonstra ter – em FOOLTURO certamente, mas já antes noutros livros como Assassigno e Falúdica – alcançado o pleno domínio desse signo. Domínio que veio da maturidade aliada à luta constante e diária, à insistência em opor-se ao óbvio e ao fácil dos discursos disponíveis; que consiste em dar à palavra a forma dura e inquebrantável que se ergue como obstáculo diante da caretice neoliberal em que o mundo, burguês e feliz, mergulha; que devolve à palavra poética sua condição de “inutensílio”, de “pedra” no caminho e na boca de quem, desavisado, não mastiga bem as palavras antes de engolir.

Acho que em FOOLTURO está um dos melhores momentos poéticos que li nos últimos anos. É poesia condensada: ali estão Pound, Paz, Cabral, Calvino, Ávila, Drummond... todos os poetas. Porque todos sempre disseram a mesma coisa: só com poesia será possível. O que Márcio Almeida diz é o barulho da própria poesia.

Mas não tem que explicar nada. É ler o FOOLTURO. Vá direto à página: http://www.germinaliteratura.com.br/2008/booksonline_marcioalmeida1.htm e veja com seus próprios olhos.

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