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24 março, 2008

sobre o FOOLTURO

EM QUE CANTO COLOCAR O FOOLTURO?

livro de márcio almeida (re)coloca questões fundamentais sobre o sentido da poesia num mundo autofágico

¿a poesia não é mais necessária a poesia já foi necessária já houve um dia poesia ou tudo não passa da mesma prosa o mesmo texto o discurso de todos a palavra de um somada à palavra de outros que somada à de outro e outros que como os galos de cabral tecem cantos de luz como os cantos de uma sala de uma esfera onde a humanidade doente expira?

como os cantos de um labirinto assim a poesia-prosa-canto de foolturo

porque não sei como fal(h)ar de tal texto senão como quem cita as mesmas frases ditas ao contrário como quem reedita textos impublicados ou rediz o inaudito uivo do que será alcatéia que nos cerca como palavras no centro de um silêncio como silêncios nos cantos de uma página como os brancos entre as linhas e os sentidos sequer pressentidos nas entrelinhas do que nunca se escreveu e uma poesia que não aceita outra crítica senão num texto que a cita e explicita o código o digo o dígito o agito de letras que se misturam em superfícies brancas letransbrancas intraduzíveis encantos de palavras de cantos impenetráveis e as palavras como as lesmas deixam rastros estelares como as letras as lesmas de tão lentos seus sentidos e as sementes lastros às resmas estatelares ruídos absurdos nos cantos das galáxias que nenhum hubble jamais verá mas que a poesia repete desde o antes desde o passado que virá desde o instante em as portas do futuro se abrirem desde o inferno e desde o fundo do vazio e o ruído é sempre o mesmo as palavras são as mesmas signos insignes vagalesmas cometeoros que virão e eram o mesmo corpo todos os planetas e estrelas e asteróides e poeiras cósmicas tudo um só corpo antes quando o ruído se fez e o big mac fiat lux: dura lux sed lux

¿como fal(h)ar de poesia se ela é dígito novo sempre o dna e suas combinações como os lances de dados as terceiras intenções das margens do rio que corta a minha via láctea aldeia menor que as cortadas por outros rios mas de onde vislumbro o universo e a poesia a íris dos olhos de uma ambígua atriz de círculos infernais a dor de dente e ouvido a dor de antes do olvido a dor de sempre e seu signo: a poesia que se persigne e fica com letras espelhadas espalhadas sobrespelhos?

e eis que seu nome não será mais poesia mas canto mas conto narrativa mítica já prevista e reescrita nas linhas da humana palma desde sempre desde a mais remota ancestralidade que ainda nascerá quando não formos mais ecce omo imagens perdidas no espaço branco das pláginas onde copiamos e nos copiamos e deixamos rastros

não sei fal(h)ar de outra maneira do barrocosmo do (re)canto poundiano em que nunes vê elliot e outros não vêem ou não tecem ou não entretecem ou sim ou não a poesia é a terceira face da moeda clara ou coroa, nós a devoraremos

impunes é que não sairemos daqui

o foolturo de márcio almeida é diálogo rastro sulco rástrico de um textocanto poundiano que expurga as usuras do facilismo – fascismo do fácil – neoliberal do discurso pub(l)icitário para otários que se calam e se encolhem e é chute certeiro no saco paquidérmico do discurso insosso dos poetas bacaninhas das grandes e pequenas províncias

BARROCOSMO/CANTO: o poeta habita todos os signos que são as mesmas palavras reditas desde sempre em outros planetas (por onde passam também afinal todos os mesmos ruídos que inouvimos) de outras galáxias de outros sistemas onde qualquer coisa como gente escreverá coisas como poesia e viverá sob coisas como tabuletas

pois sempre haverá poemas e tabuletas

em sua tabuleta, márcio almeida inscreve: “aqui, lê-se o foolturo

Um comentário:

NANAL BATATINHA disse...

Coloco aqui o email que o amigo Márcio Almeida me enviou. É o "comentário do comentário do comentário..."

ABRE ASPAS:

"Meu caro amigo Juvenal,
fiz questão de imprimir as 40 páginas do seu blog para conhecer melhor o trabalho que v. desenvolve via virtual . Sua paixão pelo Cruzeiro (sou atleticano) empolga, aliada à mis -
são do palhaço Bandeirola e a uma indisfarçável tendência glutona do Juvenal culinário,
gourmet e gourmand de receitas apetitosas a liberar a gula do imaginário, além de aus lei-
turas oportunas, sensíveis e inteligentes da Literatura e da Cultura em níveis macro ou es-
pecificamente divinopolitana, a exemplo do Caça-Palavras, do Barkaça, ou quando pontua
sobre a Educação, na qual v. milita em uma visão profunda do que se passa além da lousa.
Tudo isso faz do seu blog um dos + ricos que conheço, merecedor que é de ser amplamente
divulgado, tal como v. faz em relação às revistas Cronópios e Germina.
De modo muito especial, tocou-me sobremaneira o que v. escreveu sobre FOOLTURO. Con -
fesso-lhe com sinceridade: seu texto crítico é melhor que o livro. Nele, v. demonstrou ter mes
mo, irrefutavelmente, uma sensibilidade muito arguta para ler no bas-fond da linguagem poéti-
ca, mormente em se tratando de FOOLTURO, um livro, - reconheço- palatável somente para a-
queles que têm de fato conhecimento de poesia e de poética. É o seu caso.
V. assinala o que em mim é verdade: não brinco de "fazer poesia." FOOLTURO tem sim, de Pound, de Octavio Paz, de Affonso Ávila, de Drummond, de Yeats, de Cassiano Ricardo, Pessoa, Wordsworth, e tantos outros que alicerçarammeu chão poético por cinco décadas. E tem razão ao dizer que "todos os poetas são mesmo autores de um só texto e por isso todos estão sempre dizendo a mesma palavra. Uma palavra que é o signo oculto em todas as línguas e cujo nome mais próximo é poesia." Perfeito. Por que FOOLTURO é exatamente esse desafio: fazer prevalecer um signo que já nem se pode mais afirmar ser signo ou poesia. Um signo que vai longe porque vai dentro. que é útero e é ylem. Uma palavra que exaspera e desconforta, que incomoda e não transige, que quer ser em si. Ou seja, como v. leu: "a insistência em opor-se ao óbvio e ao fácil dos discursos disponíveis." Novamente perfeita sua observação.
É isso: a intenção de devolver à palavra seu inutensilio, de pedra no caminho. Um livro que questiona o próprio livro O TEMPO TODO, sem refresco, sem pausa, sem trégua, como numa guerra púnica em desfiladeiro-hímen. Que põe em xeque e em choque a necessidade da poesia, a função do poeta. FOOLTURO = "a palavra de um somada à palavra de outros." "Como os cantos de um labirinto." Um livro que "rediz o inaudito uivo odo que será alcatéia que nos cerca como palavras no centro de um silêncio, como nos brancos entre as linhas e os sentidos sequer pres-
sentidos nas entrelinhas do que nunca se escreveu e uma poesia que não aceita outra crítrica senão num texto que a cita e explicita o código." Brilhante, meu caro.
FOOLTURO é "desde o fundo do vazio", "desde o antes", "poeiras cósmicas", "dna", "lances de dados", "íris dos olhos de uma ambígua atriz de círculos infernais", "a poesia que se persigne". Novamente brilhante! É v. com nobilíssima inteligência mergulhando nas profundezas abissaias das (des)construções pós-modernas de um livro confessamente raro, cosmológico, anti-poético. Um livro qte trata, como v. incrivelmente feliz classificou de "barrocosmo", que "expurga as usuras do facilismo- fascismo do fácil - neoliberal discurso pub(l)citário para otários que se calam e se encolhem, chute certeiro no saco paquidérmico do discurso insosso dos poetas bacaninhas das grandes e pequenas províncias."
Creia-me, amigo: foi o que melhor se escreveu sobre FOOLTURO. E agraço-lhe muito - e comovido - por suas palavras críticas. Abraço e renovada admiração - Márcio Almeida "