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03 agosto, 2008

PEDIDO (IN)FORMAL DE DESCULPAS

O CIRCO PEGOU FOGO!!!

Fui (muito!!!) infeliz nos comentários sobre o Circo Kalahary e peço desculpas publicamente

Os meus cinco leitores devem estar se deliciando com o verdadeiro “pito” que levei dos profissionais do Circo Kalahary nos comentários da postagem anterior a essa. Isso é bem feito pra eu deixar de ser idiota e falar demais. Vamos ao que interessa.

1) Em primeiro lugar quero, humildemente, PEDIR DESCULPAS a todos os profissionais e artistas do Circo Kalahary. Fui grosso (sem querer e sem perceber que o era) e infeliz em meus comentários, mas o fiz, juro, com a alma limpa de palhaço aprendiz (e atrapalhado) que sou. Não pretendia ofender ninguém, nem a instituição Circo Kalahary, nem seus profissionais, nem o “circo” propriamente dito. O que eu realmente quis dizer é que essa instituição, o circo, hoje, infelizmente, ainda é tida como uma arte menor, sem valor, sem prestígio; e que os heróicos artistas que conseguem manter viva essa arte milenar são merecedores de todos os mais rasgados elogios.

Quando usei a (infeliz) expressão “charme da alma decadente de um circo espelunca” pensava expressar exatamente aquilo que meus olhos viram na noite do domingo, dia 20/07/08 (especialíssimo para mim!).

O “decadente” pode parecer dirigido ao Kalahary especificamente, mas (e nisso, creio que os próprios artistas do circo concordarão comigo) não é “este” circo propriamente dito, mas todos os circo que ainda rodam o interior desse país com os parcos e raros recursos de que dispõem. Torço sinceramente para que deixe de ser decadente esta maravilhosa arte circense e que volte a gozar dos dias de glória que experimentou no passado. Decadente porque já vi circos lotados nos anos 1970 e hoje, infelizmente, não é mais assim. Decadente porque os circos da minha infância paravam a cidade com sua chegada e hoje, infelizmente, não é mais assim. Os tempos são outros... Eu e minha antiquada alma de menino ainda preferimos as tábuas empoeiradas e soltas das arquibancadas de circos como o Kalahary.

O “espelunca” provavelmente tenha feito ainda mais estragos, mas... meu Deus... desde que me entendo por gente, desde criança, vou a circos. Vejo que a vida de um artista circense nada tem daquele glamour que possuem os que aparecem na TV ou no cinema, mas que eu, quando menino, imaginava tivesse. O circo (ou pelo menos todos os circos que vi até hoje, de Orlando Orfei a Kalahary, passando pelo Gran Circo Mexicano e outros de cujo nome não me lembro agora, pois, como disse, tento não perder nenhum que apareça por aqui) tem sim um charme especial, um ar de algo que somente os que têm alma de criança conseguem enxergar... Uma magia, um mistério, um segredo...

Sinto muito, mas os meus olhos de adulto vêem esse charme, hoje, como “espelunca”, mas num sentido que os dicionários não trazem (e talvez nunca tragam!) de “digno em sua capacidade de resistir”, de “anacrônico aos neons e oferendas mil da sociedade espetaculosa e limpinha dos shoppings”.

Eu, particularmente, me sinto mais à vontade em lugares “espeluncas” do que em lugares “limpinhos” como agências bancárias e condomínios de ricaços e shoppings (tinha um do lado do lugar onde o Kalahary montou sua lona!), todos eles cheios de granitos lisinhos e ares-condicionados e cheiro de desinfetante e demais atrativos e salamaleques burgueses. Eu particularmente prefiro o cheiro de lugares como a arquibancada do Circo Kalahary, o cheiro (melhor: perfume) de lugares simples e com a limpeza que só a pobreza tem em sua dignidade; lugares que evocam a casa de minha avó e a minha própria casa, cheiros que eu percebia quando era criança e meu nariz não distinguia o cheiro do dinheiro e da hipocrisia. Pra mim, é no “espelunca” que está o cheiro de gente, de gente de verdade. Há outros lugares “espeluncas” que me atraem... Em breve esse blog divulgará alguns deles.

Mas tudo isso que digo vai ficar parecendo demagogia barata e não quero isso. Eu quero ser sincero como as pessoas que me conhecem de perto sabem que sou. Então vou ser simples e direto: DESCULPAS PELAS PALAVRAS INFELIZES. SE OS ARTISTAS DO KALAHARY PREFERIREM, EU AS RETIRO DA POSTAGEM. MAS NÃO QUIS, EM MOMENTO ALGUM, DENEGRIR A DIGNIDADE, A SINCERIDADE, A CORAGEM, A SIMPLICIDADE BELA DO TRABALHO HONESTO QUE VOCÊS APRESENTARAM.

Como eu digo no texto, eu acabara de chegar de BH após um curso pesado e cansativo e, ao invés de ir para casa, corri ao circo para vê-los. E correrei sempre que ouvir o nome desse e de outros (resistentes) circos.

Portanto, MIL DESCULPAS novamente.

2) Só a minha filha sabia disso, mas agora todos vão saber. O “gordinha” não expressa a verdade que eu vi na trapezista do Kalahary. No dia seguinte à função a que assisti (ou seja, na segunda-feira, 21/07), comentei com minha filha o espetáculo que vira na véspera. E, sobre a trapezista, disse o seguinte a minha filha: “Ela não é bem ‘gordinha’, mas forte. Ela é baixinha e tem os ombros bem largos, por causa dos exercícios que tem que fazer”.

Eu sou gordinho e baixinho, não tenho absolutamente nada contra as pessoas que o são. A trapezista do Kalahary simplesmente não corresponde à imagem que qualquer pessoa faça de uma trapezista de circo. Aliás, isso até torna sua apresentação mais digna de elogios e aplausos, uma vez que ela supera as limitações naturais (altura, peso, etc.) com sua capacidade e talento naturais. Como a ofendi, peço DESCULPAS novamente, mas agora a ela pessoalmente e gostaria muito de fazê-lo em viva voz (por telefone ou pessoalmente, quando a oportunidade surgir).

O número de trapézio é um dos pontos altos do espetáculo do Kalahary. O senhor que se apresenta (ele terá uns 60 anos?) e o menino (ele terá uns 12?) de certa forma “roubam” a cena, exatamente por expressar (pelo menos foi assim que eu interpretei) os dois pólos de uma estrada que só se trilha para a frente: O ESPETÁCULO. E, todos sabem, O ESPETÁCULO NÃO PODE PARAR porque as gerações de artistas se sucedem e assim será para sempre. Ao ver aquele senhor se apresentando, minha alma de criança aflorou e meus olhos se encheram de lágrimas: o ser humano é capaz de coisas de que muitos duvidam. Ao ver o menino saltando no ar, uma lágrima rolou: o circo tem futuro sim e resistirá, apesar dos vários “não” que ele ouve todos os dias. Este senhor e o menino são, metaforicamente, corredores de uma prova de revezamento, em que um passa ao outro o bastão a ser conduzido. Maravilhoso, poético, lacrimejante... humano!
(Minha intuição de fisionomista é horrorosa, mas acho que o senhor do trapézio é pai do palhaço Cheirozinho, que por sua vez é pai do garoto do trapézio. Acertei?)

Quando cada artista terminava seu número, saltava sobre a rede (o “salto da perereca” que o Cheirozinho dá é fantástico, mágico, inesquecível!!!). Quando chegou a vez da trapezista saltar, na fileira atrás daquela em que eu estava, um grupo de meninos soltou um sonoro “Nóóóó!!!”. Claro: como ela é forte (sei lá qual a palavra usar, as mulheres sempre vão se ofender com o que nós dissermos delas... mas vá lá: “forte” expressa bem o que pretendo dizer) os meninos aguardavam ansiosamente pela sua vez.

Se os meninos fizeram esse “Nóóóó!!!” de alma limpa e sincera (os artistas de um modo geral, e os de circo em particular, sabem que as crianças nunca mentem), eu me incluo entre eles repito o “Nóóóó!!!” ao ver a rede ceder ao peso do corpo da (diga-se de passagem e com todo o respeito possível) bela trapezista. Que foi, aliás, a pessoa a quem paguei o bilhete de entrada. E que se chama Scarllet e escreveu um comentário na postagem anterior se identificando.

Mas (juro que não quero parecer demagogo, mas todo pedido de desculpas fica parecendo sê-lo) NUNCA QUIS OFENDÊ-LA. O número do trapézio é sim um dos pontos altos do espetáculo (o da caixa de mágica não!!!) e todos os que o realizam recebam, por favor, os meus mais sinceros parabéns.

Vocês são verdadeiros artistas.

(Mais de uma semana depois, fazendo minha caminha pelos lados de onde o Circo estava armado, pensava: como será que aquele garoto faz com escola? Como seus pais resolvem a parte burocrática que as secretarias de educação exigem? Enfim: eu estava envolvido com as pessoas que vira no espetáculo; eu não apenas assisti ao espetáculo, mas algo permaneceu em mim. Algo de importante e humano. Como será o nome disso?)

3) Esse pedido de desculpas já está ficando longo e cansativo e chato demais. Quase que eu o dividia em duas postagens. Mas agora vai ficar assim mesmo e faço a terceira e última observação.

Na saída do espetáculo, perguntei a um dos artistas do Kalahary (o equilibrista argentino de cujo nome não me lembro) até quando eles permaneceriam na cidade. Ele me disse que só tinha certeza da apresentação da segunda-feira, dia 21/07. Depois...

De fato, no dia 22 o circo levantou lona.

Na manhã da segunda-feira, ou seja, do dia 21, passei anonimamente de bicicleta em frente ao Circo. Vi como pessoas “normais” aqueles artistas que, na véspera, vira como parte do espetáculo. Minha idéia era ir ao circo e perguntar se eles passariam a semana ali, pois pretendia ter umas aulas de malabarismo (o número de malabarismo com a cruz de malta é muito bom!!!!!!!!!) e palhaçadas (as apresentações dos palhaços são excelentes!!!!!) com os artistas do circo. Se eu tivesse entrado e procurado alguém, certamente tudo isso que escrevo agora não seria necessário, pois iria conversar pessoalmente e elogiar a todos, pois saí do circo de alma limpa e leve.

Eu pretendia, sim, buscar no Kalahary as lições possíveis, pois hoje, aos 46 anos, pretendo me tornar palhaço (isso fica claro para quem ler as postagens que compõem esse modesto blog). Eu assisti ao espetáculo (e assistirei todas as vezes que voltarem a Divinópolis ou que eu me encontrar com a lona do Kalahary montada – uma aluna já me disse que o circo sempre se apresenta em Araújos e redondezas!) porque acredito que é ali que eu poderia aprender algo que enriquecesse minha modestíssima pretensão de me tornar palhaço e... artista amador de um circo solitário... O mais espelunca e decadente de todos os circos: o circo do eu sozinho (e ele vai acontecer, podem apostar!).

Sou professor e pretendo me tornar palhaço. Já me apresento como tal e confesso que, depois que pintei meu rosto e me vi espelhado nos olhos daqueles com quem brinco é que realmente comecei a me encontrar. Tenho um caminho novo para trilhar e acho que não é tarde, afinal, sou uma criança de 46 anos e pretendo, lá pelos 70 (ou seja: em plena adolescência!) poder fazer alguém rir de uma singela palhaçada. Sei que vou conseguir. E podem acreditar: o Cheirozinho e sua trupe me ensinaram muito.

Eu sei sim o que é cultura (por isso fui ao Kalahary e irei sempre), sei da importância de manter viva a alma do circo e farei tudo que estiver ao meu alcance para essa chama jamais se apague. Se pareci desrespeitoso, PEÇO DESCULPAS novamente. NUNCA QUIS DENEGRIR A IMAGEM DO CIRCO KALAHARY e, prometo: quando voltarem a Divinópolis, EU ME PRONTIFICAREI A SER UM DIVULGADOR DO CIRCO, se assim quiserem seus profissionais. Dentro dos limites do que consigo, farei o possível e o impossível para ajudá-los (menos saltar do trapézio!!!)


Ainda não retirei deste blog o texto que gerou essa polêmica; vou aguardar os comentários dos artistas do Circo Kalahary, pois eles é que dirão se devo ou não fazê-lo. O que eles disserem será feito. Acho que o tal palpite ("palpite infeliz" sim, Noel Rosa!) deveria ser mantido (pelo menos como “comentário” oculto) para que tudo isso fizesse sentido para meus cinco leitores, que não sabem do mal-entendido. Se preferirem, retirei, embora não pretendesse aquelas palavras como ofensivas.

Quero reforçar, portanto, meu PEDIDO DE DESCULPAS A TODOS OS ARTISTAS DO CIRCO KALAHARY, e mais especialmente a Scarllet, a trapezista à qual me referi de modo grosseiro e indelicado.

De minha parte, gostaria de iniciar uma relação de AMIZADE com todos os componentes do Kalahary e, dentro de minhas limitações, me tornar um divulgador e incentivador e parceiro de seu trabalho, desde que isso seja de seu interesse.

De coração limpo, de alma serena e com a mão estendida para a amizade:

JUVENAL BERNARDES (Palhaço Bandeirola)

(P.S.1 : ao palhaço Cheirozinho e demais: a minha mais sincera admiração. Vocês me ensinaram muito naquela noite. Eu voltei a ser criança através das brincadeiras que vocês realizaram).

(P.S.2 : meu irmão Pam-pam deve estar rindo a valer de mais essa trapalhada minha. Ele sempre ria muito das minhas mancadas e confusões. Pois é, Pam-pam, aposto que nisso tudo tem o seu dedo).

(P.S.3 : se vocês aceitarem o meu pedido de "fazer as pazes", meu email é juvenalbernardes@uai.com.br Entrem em contato e passem sua agenda de apresentações. Quem sabe eu "siga" o Kalahary e os encontre para um papo, um almoço, uma conversa amiga).

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá Nanal, chego tarde ao debate, mas, enfim....
Pelos meus antigos comentários no blog você sabe que, na medida do possível, não me afeto pelas amizades ao emitir opiniões.
Pois bem, acho justo se explicar aos artistas do Kalahary. Só. Não precisava pedir “tanto” perdão e vou te apontar os motivos.
Toda e qualquer leitura é de natureza anárquica, como afirma a maioria dos historiadores e filósofos da linguagem. Você, como o bom poeta que é, deve intuir isso. Pouco importa a autoria; um texto é de inteira propriedade do leitor. A questão que então se coloca é a seguinte: Você se expressou mal ou foi mal compreendido? Um pouco de um, um pouco de outro. Eu, por exemplo, quando li o seu PS sobre o Kalahary Circo fiquei com o coração apertado de não ter ido ao espetáculo. Penso que muitos correriam ao Kalahary Circo após lê-lo. Se há elementos jocosos que (aparentemente) diminuem o circo, também está na cara que você escreveu um texto com imagens verbais poderosas e cheias de ternura. Quem tem um pingo de sensibilidade percebe isso. Digo “sensibilidade” porque não está certo dizer “cultura”. Cultura todo homem tem. É um conceito antropológico muito mais amplo do que o usado nos comentários sobre seu post. Estranhou a mim e a outros que leram os comentários aqui em casa, alguém ligado ao circo (que, afinal, pertence à esfera das manifestações populares) usar de modo tão estreito e elitista o conceito de cultura. Da mesma forma, te reduzir por usar um blog ao invés de um site, parece a mim um absurdo, já que o blog é uma via de expressão digital muito mais democrática que o site. Seria o equivalente a dizer que um palhaço não tem talento pois se o tivesse estaria sobre o tablado e não sobre um picadeiro. Ora, os artistas e admiradores do Kalahary têm toda razão em registrar suas indignações. Afirmar que tais e tais impressões pessoais não correspondem objetivamente à realidade e prejudicam a imagem do Circo. Nada mais certo. Tudo isso, porém, poderia ser feito sem que se atacasse a sua pessoa, de forma mais polida, como fez, em algum momento, a Scarllet Guidio. Perderam com isso a possibilidade de demonstrar superioridade moral e de agregar simpatia na praça de Divinópolis. Tudo tem seus dois lados da moeda. Bom seria se um erro fosse apontado e carinhosamente corrigido. Mas, no caso, um erro gerou outro e, portanto, não se importe de receber 5 comentários num texto e em outro, onde você pede perdão publicamente, não receber comentário algum.
Expresso aqui minha opinião e a dos outros editores do barkaça que leram seu blog hoje comigo. Um abraço sincero pra você e pra turma do Kalahary.

Mingau (luís Antônio Teixeira)

Anônimo disse...

De Scarllet para Nanal(enviei anonimo pq da outra forma deu falha)Oi Nanal,acho q tudo nao passou de uma grande confusao, onde como vc msm disse, um erro foi levando a outro e assim em diante. Vc fez sua parte de reconhecer que errou ou melhor nao soube se explicar qdo postol comentarios do Kalahary, nos tbem erramos ou pelo menos errei qdo fu ardua nas palavras. Agradeço sua compressao e humildade ao pedir desculpas no seu blog, tambem estamos de maos estendidas e esperamos sua visita qdo for possivel,o momento estamos em oliveira.
Enfim vamos esquecer este grande mal entendido.
Ps:nao sou a trapezista, sou filha do cherozinho e nao moro no circo, moro em Betim pq parei para estudar, mas venho sempre que posso apresentar e ver minha familia.
Bjus

Anônimo disse...

Oi Nanal, não sei bem o que vc falou sobre o Kalahary, mas seja o que for está completamente enganado. Para mim é um dos melhores circos que já fui, não pela beleza da lona, das cadeiras e do palco; e sim pelos artistas que lá trabalham. São todos profissionais no que fazem e são todos amigos e bem acolhedores.
Por gostar muito deles, principalmente do Cherosinho, tomo a iniciativa de vir aqui defendê-los.